sábado, 25 de junho de 2016

SUDÁRIO

velhas caminhadas e as novas
não dizem nada muito menos
quem é o quê

cigarro de palha enche o saco
maria fumaça é história
p'ra velho dormir
sonhando cara de boi

falo uma língua universal
mas a cara é sempre de chinês
porque o pó da estrada
é só uma letra de canção
saber a hora de partir
é viver odisseias pessoais

de hoje em diante
vago
sem outra bota
do que a de pisar fora
e apenas deixo lembrança
no papel amassado do bilhete breve
o eletrônico em mim
é o anjo que bateu asas
p'ra longe da loucura planetária
e caiu numa lua sem halo
aonde esquecer é pintar o sonho
no sudário


Erico y Alvim

quinta-feira, 16 de junho de 2016

SEXO & CIÊNCIA

As personalidades mais luminosas
da minha época dormem na calçada
entre a droga e o estelionato

Esta não é a terra receptiva
ao Anjo condenado a arrastar a sombra
colhendo as laranjas podres da estrada,
esta é uma terra de igrejas negras
- a monarquia réptil
cintila espadas lavradas dos ossos dos inocentes

Eu encontro a filha do negociante de cabeças
apaixonada pelo rei do tráfico
procurando entendimento e significado,
de ouvido colado no poço
esperando alguma notícia real/
aves descem-lhe docemente pelos suspiros

Por onde quer que eu vá
as pessoas trancam as portas
não querem presenciar
o cumprimento das promessas

O chacal crava a lança
no meio do horizonte, é hora
de encarar as possibilidades

As lágrimas de um anjo revoltado
com a escuridão das almas viciadas
materializam a mulher indecifrada
reinando no mundo baixo dos crimes
patrimoniais perpetuados nas escavações
religiosas cuja lógica é o encontro
do Universo com a modernidade

Rufam os tambores do Paraíso
os anjos de Atlântida
gritam nas celas
e a nova esotérica
é esquecida
porque sexo e ciência
dominam os sentidos

Eu não trago disponibilidades
a perfeição reside no esquecimento

 Erico y Alvim

quarta-feira, 15 de junho de 2016

ROCK HORROR SERTANEJO

Vejo os ventos estufando bandeiras execráveis
a rebelião é doce na tomada das ruas
nos devaneios,
a causa da desordem é que o novo verbo celeste
sai do sonho e caminha na poeira,
sei disso porque ouço os viajantes da noite
relatando as quedas

Conquistada a manhã
a cama tornou-se irreal,
e os poucos anjos preservados impunes
recolhem confissões dos amores imperdoáveis
despidos na aflitiva chegada
das manchas sonoras na lua

quando tudo enfim é uma gota gigante
do transparente mel escorrendo da colher marinha

quando tudo enfim é um trago antes da hora
antes de você antes de revelado o segredo

O vandalismo das viúvas
putri'vulvas
é um rock horror sertanejo
estátuas guerrilheiras de sobejo
sangram agruras heavy-esdrúxulas
aonde a revanche perdura

para que a nova elite surja da face lavada das rebeldias válidas

Eu sigo matuto sem regras
sonhando pântanos
aonde elementais dominam a noite
sei dos presságios
porque o crime vem do porão de Babel,
sei de mim porque só é definitivo o esculacho


Erico y Alvim

MENSAGEM FINAL

o canibal mastigava cérebros enlatados
ninguém mais sabe aonde os esqueletos jogam
eu quero só vomitar nas roupas das madames
porque velhotes babacas não servem de poetas
mesmo porque nas torres medievais nenhuma princesa
esperava sacanamente o ancião

aonde eu bebo a palavra é uma fenda no tabuleiro
e o fogo nunca foi memória nem tampouco mendigos clamam latim,
é preciso sabotar as escolas de pensamento
é preciso assassinar padres e riscar do mapa juramentos
é preciso deturpar a mensagem final
não sei porque desacredito em quem pede ajuda
há sempre uma conspiração no coração do fraco

não veja esta porcaria, há misticismos
aguardando depois da curva
não espere ditos as novidades encerraram
de agora em diante o que era só o testamento de um mito
virou escândalo e bebedeira no botequim fechado
de agora em diante quem espera o herói sobe o morro
nas costas o violão dos ossos do palhaço - lavrado


Erico y Alvim

QUANDO JAMAIS SERÁ PASSADO

do outro lado da noite/
o castelo de cartas/
do rei dos fracassados/
do submundo/
voa sonhos janela afora/
até desbotar ao sereno da lua/

qual é o gosto da demora?/
quem é o mestre vagabundo? /
o que há no anel do falso demente?/
atrás da máscara vigia o que entende/

a ética é só estética/
no trem o fantasma/
domina estranhamente/
aos que não reagem/
porque o jogo fim não tem//

o rogo é alecrim/
na ceia dos agiotas/
idiotas sósias  dos palhaços/
eletrônicos capachos das sombras//

nem um pouco tontas/
mergulhadas nas tintas/
das descomposturas lindas/
da queda do império aos impropérios//

quando jamais será passado/
quando só se quer o dia termine/
não importa quanto a esfinge/
o olhar incline //

devagar o crime/
ocupa o espaço do milagre/
aonde o galo canta metralha/
e o desprezo escangalha/
o poeta esmolando vocabulário de cabeça-de-bagre


Erico y Alvim

sexta-feira, 3 de junho de 2016

BRINCAR NA CONTRAMÃO

Eu fui embora calçando as sombras
que as saudades deixaram do que não resolvi,
as cordas q'eu dedilho são estradas
de cada loucura que me tirou daqui

Eu já brinquei no abismo de estrela cadente
e não me tornei melhor do que sou,
a subida oculta a verdade e ninguém sente
só na origem a pedra preciosa é puro amor

Brincar na contramão envelhece mais depressa,
ainda que o jovem gritasse era seco o eco
por mais que a andança n'algum lugar leve, essa
vontade de lutar é diferente, de noite - da chuva não seco

Aonde eu for encontro no mendigo
outro perdido do planeta rebelde,
o vento espalha em línguas de chamas o que eu digo
apenas porque o tempo é amigo de quem não cede 


Eriko y Alvym

quinta-feira, 2 de junho de 2016

RUAS DO ARCO-ÍRIS

1. Relembrarás
da longa e negra limusine
deslizando na lembrança
da aurora colorida pela canção,
quando a juventude era o caminho
da mudança, nas estradas
cuja poeira são acordes dos sonhos
que os anjos sacudiram do arco-íris
nascido das carnes do rock'n'roll
e do amor selvagem

2. Da voz nasce uma flor cujo perfume é ouvido
(é ouvido) na distância tirando faíscas dos átomos
relembrarás, oh sim, relembrarás
dos caminhos percorridos, dos caminhos percorridos relembrarás,
pedras em fogo rolando do motor, rolando do motor pedras em fogo,
e a multidão seguindo as pistas
apontadas pelas estátuas
guitarras rumo ao céu, céu das guitarras

3. Relembrarás, oh sim, relembrarás,
o amor universal fala pela canção,
e se aprendemos na liberdade
o som da terra e a língua do vento
aceleramos pelas estradas
atravessando de amor os campos selvagens,
pelas ruas do arco-íris chegando aos céus


Erico y Alvim