terça-feira, 31 de maio de 2016

COMIDA ROUBADA

O que pode o homem rude e apaixonado/
que não cantar o blues e o rock'n'roll/
à moda das guerrilhas radicais da religião? //

Nesta cidade de sombras loucas/
a conspiração é real/
prefiro ficar que nem anjo desligado/
fumando baseado na chaminé apagada/
da fábrica falida/
aonde a minha alma queimada é um rasgo/
no céu que me escorre pelos dentes//

Política é lugar de santidade nenhuma/
por isso minha igreja é do rock'n'roll/
o direito urbano além do esconderijo/
é a comida roubada/
a cerveja é para o espírito assim como a espuma/
é a herança na vaidade do abestalhado//

Caçar é para ser de máscara/
do contrário tartarugas e lagartos/
desfilariam limusines nos carnavais/
por isso sigo você pelo telescópio da cobiça/
armado apenas de dentes e ostentação/
a moeda de troca é a foice do carrasco//

não desisto de você/
a escalada social/
é um compromisso de sangue e destino/
mas só o excesso é caminho da sabedoria/
porque nossas intensidades esgotam a noite/
quando mergulho estrelas/
nas suas carnes abertas em fúria


Erico y Alvim

NEM DA MÃE

É uma vítima da sociedade, 
rouba velhas, 
bate em mulheres

Droga arruma alguma sangue, 
trabalho coisa nenhuma 
navalha o sangue espuma

Sabe pedir sem favor 
nem da mãe recebeu amor 
toma do pobre p'ra enricar o doutor


Erico y Alvim

FUGIR DA LEI

Te amei como mendigo ama o lixo 
te roubei sem nenhum capricho 
o coração quando a loucura vier
Sua vida tão certa enterrei 
não quis saber se demônio ou rei 
só interessa morrer e fugir da lei
Pra repetir que não tenho pena 
quero aplauso cortando a cena 
o seu amor me dá força porque envenena


Erico y Alvim

PROIBIDO

Sobre uma bruma de mil cores/
você chega esparramando as torres/
num jardim pleno de delícias/
que em cada canto dança uma Vênus/
tirando véus do olhar/
mas você da alquimia bem-queria desterros/
de vizires abandonados de magias/
pisando seus pés as chamas de desejos/
que desmontam conspiratórias lendas/
na dança soprada pelo anjo no sonho dos profetas/
quando só as estátuas sabem a melodia do seu nome guardada nas estrelas/
pois é, aonde você passa a sombra levanta flor/
e se o proibido é uma norma de pedra/
não há segredo mudo na gaveta/
porque você ensina a verdade a voar pelo sorriso/
intensidade é uma prova que você existe/
se a beleza desalinha pela surpresa o luar


Eriko y Alvym





A NATUREZA É UMA CANÇÃO

Ao despertar, a Aurora cobria a Nudez
com as chamas que me faziam enxergar
a realidade das lendas. Ouvi
a tecelagem cancioneira das aranhas, e eis
que o indulto da miséria me permite
tirar dos olhos a venda
e a magia é plena.

Eu testemunhei a Aurora pingando dos seios
o orvalho brilhante que inebria
a adolescência da lucidez,
a Natureza é uma canção entoada
por todos os seres, o silêncio apenas
o sono da sensibilidade,
as pedras rumbam a magia eterna.

Ver-te Aurora é entender
na Sensualidade a curva
que desloca o sol
sobre a única nobreza humana:
o elo selvagem com o infinito
- o caminho do Éden
é pelo corpo amante 


Erico y Alvim

AURORA

Aurora, um dia na vida põe a eternidade no chinelo.
Anjo-pirata degola a certeza devorando alcachofras de fogo.
Através dos abismos festejados ela teceu teias de ouro
penduradas de frutos e armas alimentando a aventura cósmica,
ficar só no céu contraria os planos originais, somos busca,
o destino é outra história e não usa lendas nem assembleias.
Aurora desliza nas praias selvagens e mitológicas, vestida
no enigma, pelo enigma guarda ampulheta e cálculos secretos.
Aurora dedilha a harpa dos magos rasgando gotas de chuva
que despencam unicórnios e lobisomens-motorizados
sobre as superstições dos pastores sombrios – embasbacados
com joguinhos terápicos.
De onde ela chega, sabem apenas os que presenciaram
o erguimento mesopotâmico de uma terra ainda não-existente.
O anjo é anárquico visto da lógica da miragem.
Sagrada, a flor é completa como o sopro divino embaixo do mar,
e embora centúrias celebrem a queima dos barbarismos
levantando acordes dissonantes e machados místicos,
viver o mito se não revela o passado
fecha os cadeados das passagens secretas.
Resta apenas magia nas garrafas ocultas nas montanhas
trazidas dos céus em guerra, mas nada que assuste
a ninfa liberta do capuz da escuridão numa flor desabrochando
encantos lunares nas lagoas que iluminando a noite te revelam plena 


Erico y Alvim

MEU REDUTO

A arte livre
está morrendo,
restou apenas
esta caverna
p'ra te amar

A longa especulação
se instala,
o inquisidor
desenha sex'viagens
na prancheta

O céu avermelha
do sonho desfraldado
do anjo que navega
sobre caveiras,
sinos revoam morcegos

Harpas flamejam gritarias
aonde estátuas
mudam expressões
porque uma nova religiosidade
é centrada no amor despudorado

Ousarei outra aventura?
as muralhas erguidas
das pedras vindas da lua
não impedem o mar,
na chama eterna escrevo a despedida

certo de que só o amor
por ti a mim entregue
no bosque mágico
é a chave da outra vida:
lá, o teu lado é o meu reduto

o teu amor o levante do ser

Erico y Alvim

AS LINHAS DA MÃO VIRAM ESTRELA

O deserto de cristal
esparrama areias musicais
sobre o nosso gozo
de caçador e centaura
e entendemos
o ciúme é um anjo rebelde
- esqueleto do sonho

O amor é uma profecia
que deixa o sexo
aos números - brasas e agonia!
a bandeira tremula
inflada de gritos
e revelações
e nas areias cada gota de suor
é pérola colhida pelo demônio caolho

Cadê o sagrado?
levadas as vestes de cosmos
permanecemos com a flor intrépida
queimando e neste quadrado
solar cuja noite é uma pedra
tapando o sonho
a palidez do sol
perde o aborígene
para a TV

o homem que pintou
as paredes do céu
não pode ser cadáver
os anjos acendem nas velas
semibreves chamas de Adeus
e as serpentes urram
invadidas pela música

eu piso na brasa
com vontade
visto branco
porque o teu sexo
purifica na massagem
a minha síntese
pois as linhas da mão viram estrela
e o céu é outro

Erico y Alvim