sábado, 26 de dezembro de 2020

OLHAR DO GATO

 é você que batuca na pele dos náufragos

os toques da Revolução & da Esperança?


é você que distribui casas de caracol

aos perdidos e abandonados na noite louca 

para que o abismo seja ouvido acumulando cinzas de estrelas & coroas de lata?


estradas mal iluminadas levam aos portões de paraísos esquecidos

as poucas travessias que restaram 

salvam as cabeças dos que planejaram o luxo esquecendo dos semelhantes 


como esperar bom senso de quem se doutora para vender o próximo? 

como decifrar o olhar do gato frente à espiritualidade 

se a vantagem material só interessa

aos que fazem da fraude razão de Poder?


os passos são os mesmos em São Paulo,  Dakar ou Pequim 

solidão e desvios fazem oportuno o saque 

é preciso ligar fibra ótica no coração e aguentar o baque 

quem desenha a fantasia do amor decora o horizonte de perlimpimpim


porém, da janela a visão da manhã 

é um manto real que enfeita ratazanas 

sem nenhum escrúpulo 

ou misericórdia que justifique surtos


Erico y Alvim



  



quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

NENHUM HERÓI USA CAPA

a referência do ser
perdi no pó
sem memória
a identidade é um fenômeno geométrico

cravos bem temperados
espalhados a Oeste do drama
e a Leste do esquecimento
emitem notas fúnebres

e os macacos choram o corpo caído no espelho

no país das maravilhas
o submundo é apenas um
dos muitos infernos
nenhum herói usa capa quando se trata de encarar o medo

as sementes das rosas
deram vermes
vejo no ar o pedregulho
que um dia foi sol

e hoje serve de morada aos urubus

e aproveito a deixa
saio de cena
recolhendo a sombra
e o passado marginal
aonde a longa escadaria nunca foi do castelo
e serve ao tribunal do crime e do castigo macabros
como eu sirvo ao sonho em que o estranho anjo de asas sangradas
planta linguagens inconcebíveis no canteiro em que minhas mãos
aparecem penduradas nos caules das generalidades sem nome
eu ainda consigo enxergar os passamentos,
ainda que as retinas de vidro expressem desenhos orientais
um demônio com a face do delírio guarda a porta do túmulo
que na verdade é o palacete da emancipação das coisas podres
aonde espero, apenas, espero o derradeiro choque
da personalidade que mesmo morta, diz com exatidão
o que ainda sou e um dia farei mais que ser

Erico y Alvim